RUI MIGUEL RIBEIRO
O QUARTO DIA
Se queres saber como era
pensa no escuro no interior de um fruto.
Em sucessão, da sua força reclusa, 
conhecem-se duas curvaturas, divididas
por duas rotações nas linhas sem altura
dos seus pés à firmeza das sábias geometrias. 
Uma exterior, de brancura cega, o nulo manto,
onde o vidro não se distingue da pedra
na esfera maior que agora inicia.
Uma interior, onde as sombras não têm forma,
e nas trevas que repartem o prodígio, o mundo, 
a envelhecer inciso, interroga. 
Se queres saber como será
pensa que das formas em que o mesmo fruto muda 
uma vez caído, ou por mão colhido,
delas mantém, insuprível, a película de luz
que todas as coisas veste. 
< Génesis >
