Manuel Rosa

Fundación Ortega MuñozS10, Separata

MANUEL ROSA

ANTONIO FRANCO DOMÍNGUEZ: DIÁLOGO CULTURAL IBÉRICO

Conheci Antonio Franco Dominguez em Badajoz, em meados de 1994, ainda o edifício do MEIAC estava em construção.
Nesse ano o Antonio Franco convidou Manuel Hermínio Monteiro e José Bento para apresentarem Ensaio de
uma Despedida (Lisboa, Assírio & Alvim, 1987), um belíssimo livro de poesia de Francisco Brines (edição bilingue), com uma grande tradução de José Bento para português, bem como para apresentarem a extensa edição de poesia espanhola publicada pela Assírio & Alvim.
     
Eu, a Ilda David’ e o poeta Fernando Assis Pacheco acompanhámos Hermínio e José Bento nessa viagem. Fomos magnificamente recebidos pelo Antonio Franco, que nos mostrou extensamente as obras de transformação do antigo centro penitenciário num novo museu de arte contemporânea, o MEIAC, cruzando o seu interesse entre o mundo lite- rário e o mundo da arte contemporânea, entre a cultura espanhola, a cultura ibero-americana e a cultura portuguesa, falando extensamente dos seus projectos de tantos modos transfronteiriços.
     
A paixão de Antonio Franco pelas nossas duas línguas, pelas nossas culturas, pelos nossos dois países, estimulou aquele memorável encontro literário entre a poesia espanhola e a poesia portuguesa, anunciando já um conjunto de ini- ciativas literárias e artísticas que procuravam confirmar esse vasto propósito inicial de promover o diálogo cultural ibérico.
     
Encontrei Antonio Franco com maior frequência nos últimos anos, quando desenhei o catálogo de Jorge Martins para a sua exposição no MEIAC, em 2018, Sombras y Paradojas, El dibujo de Jorge Martins, com curadoria de Óscar Alonso Molina; ainda no mesmo ano quando visitou Clareira, a minha exposição de escultura na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa; também no MARCO de Vigo, em Setembro de 2019, quando a mesma expo- sição de Jorge Martins foi ali inaugurada, já com o novo director Miguel Fernández-Cid.
     
Passados tantos anos, talvez mais amargo devido a tantos entraves, os objectivos de Antonio Franco mantinham- -se os mesmos que em 1994. A mesma paixão pela sua Extremadura, que se estendia ao Alentejo, sempre a mesma paixão pelo estado das artes, da edição, da política, da economia, do mundo...

EL ANGÉL DEL POEMA

          Dentro de la mortaja de esta casa,
en esta noche yerma con tanta soledad,
mirando sin nostalgia lo que en mi vida es ido,
lo que no pudo ser,
esta ruina extensa del pasado,
también sin esperanza
en lo que ha de venir aún a flagelarme,
sólo es posible un bien: la aparición del ángel,
sus ojos vivos, no sé de qué color, pero de fuego,
la paralización ante el rostro hermosísimo.
Después oír, saliendo del silencio y en tanta soledad,
su voz sin traducción, que es sólo un fiel entendimiento sin palabras.
Y el ángel hace, cerrándose en mis párpados y cobijado en ellos, su aparición postrera:
con su espada de fuego expulsa el mundo hostil, que gira afuera, a oscuras.
Y no hay Dios para él, ni para mí.

FRANCISCO BRINES, A Última Costa.

 

Image

Manuel Hermínio Monteiro, Ilda David’, Antonio Franco Dominguez, Ángel Campos Pámpano, José Bento, Fernando Assis Pacheco e Francisco Brines. MEIAC, Badajoz, 1994. Fotografia de Manuel Rosa, publicada n’A Phala (n.o 46, Outubro-Dezembro de 1995) acompanhando a notícia do falecimento de Fernando Assis Pacheco, em 30 de Novembro de 1995.