António Cerveira Pinto

Fundación Ortega MuñozS10, Separata

ANTÓNIO CERVEIRA PINTO

25 ANOS

Conheci o Antonio Franco em Madrid, em 1995. Ambos numa área barata da feira de arte ARCO. Ele pro- movia o ‘seu’ recém inaugurado MEIAC. Eu anunciava ao mundo a vontade de criar uma cidade de arte e tecnologia em Montemor-o-Novo, em volta de um museu de arte a enterrar no solo árido alentejano, o qual funcionaria, escrevia-se no manifesto, como disco duro de um projeto onde, para além deste coração ‘new media’ (como hoje se diria), haveria residências para artistas e tecnólogos, ateliers, um edifício dedicado às comidas do mundo, um observatório da paisagem, um picadeiro, e até um aeródromo! Antonio Franco, um apaixonado do Alentejo e da sua Extremadura, viu a proximidade e aproximou-se timidamente dos meus quatro metros quadrados de entusiasmo. Falei-lhe então de Wolf Vostell, que ele mostrava no seu cubículo, e que eu conhecera em 1979 em Malpartida de Cáceres, onde expusera e participara numas jornadas Fluxus memoráveis. Como se diz, a partir daqui o resto é História.  
      Em 2019 Antonio Franco alertava-me: António, vamos fazer 25 anos, de amizade e de MEIAC! Temos que fazer algo para comemorar a data. Será desta que fazes a tua própria exposição individual no museu? Gostaria também de publicar um livro teu, à tua vontade. Era assim este homem determinado, paciente, que mais de uma vez puxou dos cordões à bolsa para salvar um artista ou uma situação de dificuldades. As travessias do deserto que depuram o ruído das obras e a vaidade humana são menos árduas quando encontramos pelo caminho das pedras um bom samaritano. Tive sorte.
    
O MEIAC era tudo para Antonio Franco. Um projeto difícil em qualquer parte do mundo, mas mais ainda numa cidade periférica às grandes metrópoles culturais espanholas: Madrid, Barcelona, Bilbao e outras. O fulcro do seu programa fazia e faz todo o sentido, apesar de algumas inquinações recentes nos chamados estudos pós-coloniais. Ele queria abraçar no seu museu uma grande tribo de artistas e escritores de Espanha, Portugal e Ibero-América, numa programação inclusiva e não apenas as estrelas cadentes do comércio artístico mundial. Reuniu aquela que será seguramente a maior coleção de arte portuguesa contemporânea num museu estrangeiro. No verão passado estabelecia-se um protocolo entre o MEIAC e o Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, para, no âmbito das comemorações dos 25 anos do Museo Extremeño Iberoamericano de Arte Contemporáneo, trazer a Lisboa parte do importante acervo de arte portuguesa que o MEIAC alberga.
     
O vento sopra onde quer. O sonho de concluir 25 anos à frente do museu que nascera das cinzas de uma prisão de triste memória ficou definitivamente adiado.
     
E como uma má notícia nunca vem só, chegou-nos um vírus mau, inoportuno, que fechou e manteve fechado o mundo durante meses neste ano de 2020, adiando também o 25o aniversário de um sonho que merece ser lembrado e revivido. Se não por nós, os vivos, que seja por Antonio Franco Domínguez, diretor do MEIAC, amigo de tantos.

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Maqueta de la cubierta de la exposición Metamorfosis (detalle). José Trascorrales, Antonio Franco y Marta de Menezes. Museo Chicote, Madrid, 2006.