RUI PIRES CABRAL
SÉTIMO DIA
Domingo, os lódãos
ficam mais sérios
no retrato
do jardim. Descansam
as criaturas, descansa quem
as criou, algures longe
da vista, longe do coração.
Descansa o cão extraviado
à sombra do contentor
e o ministro das finanças —
sempre, sempre tão
cansado — no seu reduto
murcho. Domingo, linha branca
que atravessa um olival:
já deste o ramo
ao padrinho? Vagares
de um mundo pequeno
ao domingo, no palheiro,
em histórias de papel velho
cor de açúcar mascavado —
eu bem não queria
morrer. Domingo nos montes
em volta, domingo na ilha
de Kirrin,
domingo em toda a parte,
de nenhures, de Deus
nenhum.
< Génesis >