Maria Graciete Besse

Fundación Ortega MuñozPoesía, SO5

MARIA GRACIETE BESSE

O CONTINENTE NEGRO

Me enseñaron las cosas equivocadamente
los que enseñan las cosas:
los padres, el maestro, el sacerdote
pues me dijeron: tienes que ser buena
ROSARIO CASTELLANOS

No painel da história, a confusão das imagens, em forma de intróito sibilino,

mulheres de identidade desfigurada, em busca de uma percepção diferente a passar pela linguagem, pela fluidez do corpo.

No silêncio das batalhas por travar, o sangue da palavra, sua mansa liquidez, seu estranho cavalgar,

espessura metálica e ácida dos continentes onde se inscrevem o desastre e a memória.

Em acidentes nítidos de subtileza essencial.

Palavra sobre o corpo. Incessante. Múltipla. Dialéctica mansa onde se jogam os estereótipos sobrepostos.

A mãe, a esposa, a amante, mulher emancipada e solitária. Outros ritmos para o questionamento. Outras esferas para o sentir. Estados intermitentes do feminino.

Errância da disponibilidade acesa, oferecida.

Conflitos acumulados na noite da alteridade radical, rizoma inquieto a recusar os limites do sistema.

Longe ou perto, o imaginário dos lugares, a grande febre.

A mulher que deseja corresponder a um modelo imposto, permanentemente alienada de si mesma, a viver nos intervalos da possível aceitação.

Anjo.

O gume do olhar dos outros, como faca da recusa. Asas em sangue, na ânsia indecisa do voo.

E a mulher que sonha corresponder a um modelo imposto apenas pela febre de ser autêntica, em devoração imprecisa. Sem depender de ninguém. Senhor ou Fado. Nenhuma norma, nenhum engano.

Demónio da eterna dualidade.

Oscilação de caminhos onde se decompõe a música do desejo.

Fonte viva a desenhar labirintos, constelações de um saber maior que o conhecimento inevitável das coisas e das gentes. Espaço de mil rostos, atravessado pelas vozes antiquissimas das bruxas e das santas. Depuração silenciosa de memórias suspensas nos círculos mais regulares de todas as ausências.

Lilith, Melusina, Salomé,

Eva ancorada nos disfarces do mito.

Figura tentacular em ajustamentos múltiplos, para a castração soberana da luz. Anónima e singular.

Ou com o nome mais ligado às tradições amantes da distância.

Coita de amor em branda viração que o desejo afina.