Júlio Conrado

Fundación Ortega MuñozPoesía, SO4

JÚLIO CONRADO


BataLHa na taPEÇaria

Operam os artífices na faca elementar
agem as figuras do ciclo do tecido
brandem as figuras do ciclo a faca elementar
armas de fio grosso armam os heróis do ciclo do tecido.

Textil saudade, os afazeres do ciclo.
No tecido abundam os elementos da faca
nas mãos nodosas dos construtores da pátria
em fio de lã da cor das batalhas.

É uma guerra imóvel a do ciclo do fio.
Já não há mãos calosas erguendo o muro pátrio
apenas a cena textil dos elementos da faca
diz de um estilo esquecido de talhar países.


BALADA NO FUTURo

Andar na viração sem um ar de respeito
um projecto de casa, uma cidade limpa
filhos, família, uma boa carreira
por causa do suposto álibi dos poemas.

Ignorar cartão de identidade
dias de anos, certidões, datas
Ah, as datas, a perfeição despótica das datas
sempre tão prontas a serem lembradas
trinta anos disto, quarenta daquilo,
(como é possível esquecerem-se
das minhas grandes datas?)
e a erupção vital dos cansaços
derramando lava assassina
onde outrora floria, espontâneo,
o desejo.

Erguer as palavras à altura dos olhos
asseverar: ainda há algum tempo para gastos
o que é preciso é não levar à letra
os versos andropáusicos de Sena e Pascoaes

(Mortos vivos especiais:
mortos antes da Morte, vivos depois da Morte)

Mandar bugiar as horas, horários
aniversários
Trocar com o espelho, uma bela manhã
de homem para homem
(ou melhor: cara a cara ) umas quantas verdades duras:
o solo gretado,
branco, ralo, o cabelo
dentes de plástico,
alguma carne deslassada,
o rosto do futuro
sem futuro.
Entendido.

Mas depois partir o espelho
e ir à vida.