Aqui me tem e ao que vim
Lhe direi
Procuro um verso
Que de mim se afastou
Coisa menor
Se o encontrar
Trate-o
Melhor-pior

Não é flor que se cheire
Não é de estufa ou jardim
É apenas um
Que
Faz seu qualquer assunto
Com o maior descaramento
E o seu valor é nenhum.
Bem viu, já vê.

Pode dar uma grande tusa
A quem menos espera.
Nem crê.

Um texto correcto. Ou um verso
Que não sei se farei ou se existe

Um texto correcto.
Com parágrafos, desacertos
Fráguas, precipícios

Um texto certo.
Um incorrecto.
Que nos mate ou aconchegue
E diga que não nos pertence

Um que nasça
Sem saber de outra arte
Que não seja
A da mais completa
E feroz inutilidade

Cúmplices seremos e amantes
Até sempre

Um texto sequer é texto
Se alguém não disser
Que é um texto
E se alguém o diz é pretexto
Para escrever um texto?
E este texto que texto é?

Um eco a fazer de eco
Um gesto a fazer de grito
Um texto sem saída
Existe no texto absoluto?

Este aqui deixo
Um texto rombo
Enquanto espero
Outro que cruze
As linhas do infinito.

Está dado o tom.
Dado o som.
Dados para jogo nenhum.
Está dado o som.
Às riscas, aos quadrados,
Faíscas
Brilham por todos os lados
Até o corpo pesar
Até
Cair de borco
Até tudo arrasar
E eu fazer de louco.

Se a mais certa verdade não existir
E for à vida o verso que se forja
Talvez não haja para onde ir
E nenhum lugar do mundo

Que nos acolha. Mensagens rápidas
Correm como o pensamento.
Correm mesmo quase mágicas
A uns tiram o fôlego, a outros dão alento

Se isto é verdade, se será ou não
Pouco importa. Já o verbo se desenha
Em outra noite que fora outra

Se a mais certa verdade não existir
Aqui fica o resumo. Viro a página
E tudo desmorona. Eu rasuro.

Agora dobra a hora
Dobra o frio o calor
Entre transido e desfeito
Ficou longe o amor

Já sem rumo. Boquiaberto.
Em apaziguamento, tumulto
Deixo este. Outro verso

A dar com tudo. A preceito
A mentir com todos os dentes
Ou, como diz a Luiza,
Pelas trazes e pelas frentes

Ou em negação. Palavra de psi.
Ou sem palavra nem honra
Em quietação. De aqui por aí.