ANTONIO RIVERO MACHINA
Alem do TejoI
ensaio palavras além de mim
como o pescador tenta a fome das crianças
nas brânquias dum espelho sem dique
na terra que é terra porque sabe do mar
vim a deitar as minhas redes
num Tejo com asas de andorinha e voo de gaivota
vim a procurar o meu espaço
na minha pátria de ribeirinho
o caminho próprio
no meu alimento sequioso
o rio apenas
II
as muralhas dizem ao céu quem é
o inimigo
mas as nuvens ainda
não acreditam os nomes
na terra
um aqueduto transmigra o seu rumo
de vidraçaria
o seu pavor
de espelho
o homem nasce sempre ao pé
duma fronteira
ninguém fica
porém
na sua patria
III
são os homens
que não compreendem as alturas
quem moram neste casario
como é o deus dos ateus
quem mora nas cúpulas
também são as crianças
a única resposta possível
à morte
olha forasteiro
são os vizinhos desta altitude
a explicação do mundo
IV
no teu rosto de mármore
fica o conto idoso das cegas celadas
o luar heterodoxo no sorriso dos sentenciados
a sombra fresca de julho e o fogo de cobre
na frágua das palavras proibidas
são teus os mares cercados
dos mapas armilares
atingidos com os nomes
apenas
é o mar sem ondas o que adeja morto
nas tuas mãos
é o teu olhar herdade das estátuas
V
é Deus
provavelmente
um castelo desabitado
cheio do horizonte apenas
na altitude dos caminhos desfeitos
pelos homens vencidos
são os homens
que bêbedos de vértice e pegada
prendem a planura duvidosa
erguem do chão emudecido
os altares de todas as ausencias
IV
de espuma empedrada às noites
é o caminho que leva
ao mar
não há redes que possam lembrar
o segredo das peles nuas
o impossível dançar das âncoras
a saudade da lua recém-saída da água
pelos golfinhos já dormidos
quem sabe onde
longe
ficam os nomes das coisas
o litoral
é a melhor consolação possível