Roteiro da Lisboa de Eça de Queiroz e seus arredores A. CAMPOS MATOS

Fundación Ortega MuñozEscaparate de libros, SO2

antónio apolinário lourenço

Roteiro da Lisboa de Eça de Queiroz e seus arredores
A. CAMPOS MATOS

Lisboa, Parceria A. M. Pereira, 2011, 174 págs.

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Estudioso dedicado da obra e da vida de Eça de Queirós, o arquitecto Campos Matos acaba de dar a lume mais um volume consagrado a este grande escritor do século XIX. Sem se tratar de uma novidade absoluta, porque muitos dos materiais expostos no livro já integravam as Imagens do Portugal Queirosiano, do mesmo autor, este novo livro tem, antes do mais, a vantagem do tamanho. As suas dimensões relativamente modestas permitem que se leve na mão, quase no bolso, e que se vá utilizando sempre que necessário.

No final do livro reproduzem-se as plantas de Lisboa e de Sintra e faz-se a listagem dos meios de transportes que podem ser utilizados para percorrer os espaços queirosianos da Grande Lisboa. Mas a apresentação desses espaços no corpo do volume (com texto e fotografia) é feita por ordem alfabética, o que facilita a consulta, mas pode dificultar a organização dos passeios.

Pela mão de Campos Matos e de Eça, pois o autor do Roteiro foi sistematicamente introduzindo no seu livro passagens queirosianas alusivas aos locais seleccionados, o leitor contemporâneo pode, portanto, conhecer e visitar os espaços de Lisboa e arredores por onde deambulou o romancista, quer eles mantenham a forma que tinham no tempo em viveu o escritor, quer tenham sido substancialmente alterados.

Há, evidentemente, muitos espaços hoje desaparecidos ou substancialmente transformados: lugares públicos que foram devorados pela expansão imobiliária e transformados em áreas habitacionais, como sucede com o Hipódromo de Belém, com o qual a capital portuguesa pretendia aproximar-se das grandes cidades europeias, mas que na visão satírica de Eça apenas pusera ainda mais a nu o nosso atraso civilizacional; imóveis que foram arrasados ou que mudaram o seu perfil funcional e muitas vezes também a sua fachada (esse foi, por exemplo, o destino do Hotel Bragança e do Hotel Central). E sabendo-se que o escritor realista raramente arriscava descrever sem o suporte de um modelo vivo, o autor do presente livro procura também, dentro de Lisboa, e apoiando-se em bibliografia pertinente, encontrar esses modelos, mesmo quando, como sucede com o Ramalhete, o famoso palacete da família Maia, ele não se encontre exactamente no lugar indicado no romance.

Como o leitor verá, muitas ruas e largos mudaram de nome desde a época queirosiana (foi a designação toponímica que mudou, não foi o romancista que deu nomes fictícios a esses espaços). E se nalguns casos os lisboetas continuam a conhecer os locais ficcionados por Eça pelos seus antigos (e já não oficiais) nomes (o Terreiro do Paço, por exemplo), creio que poucos saberão onde ficava o Aterro, tantas vezes referido pelo autor de Os Maias.

Estamos, pois, perante um livro que pode ser bastante útil aos leitores de Eça de Queirós e aos amantes da capital portuguesa. É pegar nele e começar a descobrir.