Tiempo y Tierra

Fundación Ortega MuñozAyN

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Ángela Sánchez. Sem Título 5, 2019
Carvão e tinta sobre papel – 70 x 100 cm

 

Irresistíveis hermafroditas

Os homens gostam de flores, mas há a convicção generalizada de que são as mulheres quem mais espontaneamente gosta destes seres originariamente hermafroditas.

As flores, nas suas formas originais, complexidade, perfume e cor são, do ponto de vista da biologia, os atratores que tornam possível a reprodução da maioria das plantas, nomeadamente através da polinização conseguida com o auxílio das abelhas, borboletas, formigas, Beija Flores e morcegos. Ou seja, muito antes de os humanos terem aparecido, e alguns deles decretarem a separação dos sexos, a verdade é que a união vital destes não só parece estruturar as primeiras flores que sucederam à era das pinhas, como foi um dos problemas mais sérios nas investigações dramáticas de Sigmund Freud sobre a bissexualidade humana e o princípio de realidade (repressão) que estará na origem de algumas neuroses.

Poderíamos prosseguir este filão na análise das vistas aéreas das flores imaginárias desenhadas com paciência e determinação por Angela Sánchez. Limito-me, porém, a uma nota final sobre o poder sugestivo das obras que decidiu expor em 2019 na Galeria Arte Periférica: as mulheres são mais atraídas pelas flores do que os homens porque as mulheres, ao contrário dos homens, pressentem na festa amorosa que imana de uma flor hermafrodita o paraíso perdido que tantas vezes as interpela, confunde e deprime.

António Cerveira Pinto
Setembro 2019