Renata Correia Botelho

Fundación Ortega MuñozPoesía, SO8

RENATA CORREIA BOTELHO

Três poemas com medo do adeus

1.

Tudo é vasto nos seus passos
o tempo, o caminho,
a liberdade

Peço-lhes de quando em quando
uma frincha de luz
uma garra de bravura

E escondo-as no bolso
abrigadas de júbilos
e vendavais

Miam o coração escondido
do mundo, entre os escombros
e o poejo

Daqui a milhares de anos
continuarão por aqui, com a lua,
afiando versos.

2.

Não a vejo faz meses:
os dedos de terra húmida
a bolsa velha, o xaile de lã

Invernos a fio junto ao mar.
As costas, em curva, dadas
ao horizonte.

Nem me atrevo a perguntar
por ela. Os anjos são ferozes
quando partem.

Olho o vazio estafado
do seu banco,
uma igreja abandonada.

3.

Vens titubeando a manhã
aninhar na terra
o corpo exangue e breve
Trazes a noite na asa
o rasto facínora da caça
no chilreio que te resta
Vejo-te a patinha recolhida
sem dedos. Pesa-te agora
o chão, meu pequenino
A quem te roubou o voo
nem a morte devolverá
o canto alado do amor.

Fevereiro de 2018